quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sou o que fui...



Sinto o passado rodear-me silenciosamente
Sinto o presente como se de um fantasma se tratasse
Sinto que o futuro se perdeu no caminho
Sinto que a minha vida se foi antes que a esperasse...

e com isso...

Vou-me sangrando em cada dor que não grito
Vou-me doendo em cada suspiro que contenho
Vou-me ficando em cada passo que recuo
Vou-me matando em cada sorriso que empenho...

e por isso...

Sou como parte de um eu que já foi
Sou como um ser que partiu sem chegar
Sou como alguém que chorou ao sorrir
Sou como fui antes de saber amar...


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Inverno do meu sentir...

Chuva salgada que me encharcas o sentir

Que percorres estas ruas escuras sem me olhar

Que molhas as valetas desertas onde vou ficando

Que inundas as tristezas onde me vou quebrando

Que matas as esperanças onde me vou segurando…



Inverno tempestuoso que chegaste sem avisar

Vais arrancando as flores que plantei durante o caminho

Vais tapando o sol enquanto ele tenta a toda força ficar

Vais escurecendo esse dia que ainda agora nasceu

Vais mortificando esta alma que tão prontamente se deu…



Inverno do meu ser que m’impedes de vibrar

Inverno do meu ser… que m’ impedes de sentir

Inverno… ai inverno… de que me adianta cá chegar

Senão tenho eu inverno… a liberdade de partir…



texto por Isabel Reis
todos os direitos reservados

EU... TU... NÓS...


Eu sempre fui um EU até te conhecer…

Era um EU feliz… mas desconhecido…

Era um EU presente… mas por resolver…

Era um EU amado… mas incompreendido…



Tu sempre foste TU até EU chegar…

Mas eras um TU por encontrar…

Eras um TU por aventurar…

Eras um TU por restaurar…



De EU a TU passamos a NÓS…

Para o mundo passamos a um VÓS…

Nessa existência que chegou no APÓS…



No APÓS onde o tempo nos abraçou…

No APÓS onde a vida nos encontrou…

No APÓS onde o amor nos “começou”…



texto e foto por Isabel Reis
todos os direitos reservados

Tempestade


Tempestade agreste que me dominas

Que me revolves as entranhas profundamente

Que nunca me deixas só na escuridão

Que me revoltas mas impedes de partir

Que me enches da raiva que não quero

Que me enches de força num só sentir

Numa dor que não quero digerir

Num desejo que não quero suprimir...

Tempestade que de longe te sinto escura

Tempestade que me trazes luz nesta vida dura…



texto e foto por Isabel Reis
todos os direitos reservados

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ocupaste-me


Chegaste… ficaste… tocaste-me…
Como se fosse sonho… roubaste-me do mundo…
Fizeste de nós o mundo…

Tornei-me tua… e só tua…
Perdida em ti… por ti…
…na imensidão desse olhar…
…na doçura do beijo…
…na luz que irradias sem saber…

Vieste… ocupaste… amaste-me…
Rodeada de cheiros e arrepios à mistura…
…tomaste-me por tua…
…derreteste-me em suspiros…
…perdida na imensidão do amor que me tens…
…que te tenho…

Dei por mim a…
…procurar-te em cada olhar…
…em cada esquina da minha vida…
…em cada sorriso que cruza o meu destino…

Chegaste para ficar…
…e ocupaste-me de tal forma…
Que dei por mim a respirar para viver
E a viver para te respirar…


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

domingo, 24 de outubro de 2010

Rugas...

Rugas…
…memórias de uma vida…
…marcas de um passado que já foi…

Rugas…
…dores… lágrimas...
…sorrisos… sonhos…
…amores… desamores...

Rugas…
…aventuras numa aventura…
…prova de que fomos… de que somos…

Rugas…
…aquelas que vejo nascer em ti…
…mas que só te realçam a beleza…
…que só me fazem amar-te mais ainda…
…não mas negues… não te negues…
…deixa-me vê-las crescer enquanto as minhas nascem…
…deixa-me conhecer pouco a pouco a vida que elas carregam…
…deixa que abram caminho às minhas…
…deixa que lhes estendam a mão…
…que as acompanhem enquanto o sol se vai pondo…
…enquanto o dia vai ficando mais curto…
…enquanto a noite vai acordando…
…enquanto a vida vai adormecendo…
…enquanto a morte vai chegando…



por Isabel Reis
todos os direitos reservados

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Don't know how...


At this moment… now…
I just want to hold you…

At this moment… now…
I just want to feel you…

At this moment… now…
I just want to tell you…
…tell you all the things you wanted to ear…
…and I never saw they where there.

At this moment… now…
I just want to free myself…
…and run deeply into your arms.

At this moment… now…
I just want to be myself again but…
…I really just don’t know how.


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Micro-momento


Num micro-segundo
De um micro-momento
Fizemos “crescer” o tempo
Fizemos “encolher” o mundo.

Naquele olhar que ficou
Numa estação esquecida
Naquela mão que me/te tocou
Num momento de vida…

Naquele micro-momento
Salguei-me no teu sorrir
Guardei tudo no esquecimento
Na dor daquele partir…


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

GRITO...


No sufoco do meu grito… sem querer descubro os teus…
No conter das minhas lágrimas… descubro as lágrimas que escondes…
…também…
Nas sombras que m’ensombram… cruzo-me com as sombras que te cercam…
No silêncio da minha revolta… acabo ouvindo a tua…
No negro que me envolve… encontro-me de frente contigo…
E aí… não aguento mais este conter, esta vontade de esconder… e…

…GRITO… GRITO… GRITO…

GRITO como antes não tinha feito… e devia…
Arranco de mim o sufoco que me sufoca a alma…
Deixo correr soltas as lágrimas que já deviam ter corrido
Escondo-me na sombra que me queria esconder…
Faço de eco ao silêncio que me consome o peito…
Enfrento a escuridão que procurei… na ânsia por uma luz…
Ao faze-lo… dou de caras contigo… e…

…GRITO… GRITO… GRITO…

GRITO pelo tanto da minha tristeza que encontro no teu olhar…
GRITO pelo muito da minha dor que não te queria fazer passar…
GRITO pelo tanto de mim que sonhei poder-te entregar…
GRITO pelo muito de mim que sonhei não chegasses a chegar.


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo (auto-retrato)
todos os direitos reservados

Porto Novo


(um dia percebi como é)

Dilacerante a rebentação…
…que rebenta cada porto…
…na busca por se procurar…
…insanidade porém…
…ninguém lhe consegue chegar…
…enquanto ele não se encontrar…

(vi também que…)

Cada onda um recomeço…
…uma nova tentativa…
…uma nova vontade de chegar…
...vontade que morre porto a porto…
...em cada onda que lhe envelhece o mar…

(questionei-o porquê)

Ó mar que não desistes…
…diz-me porque insistes em encontrar…
…porque vês morrer as tuas águas…
…nas rochas que te cercam o procurar…

(em segredo confessou-me que…)

Cada porto é um porto novo…
…que não conheço até por lá passar…
…até posso morrer sem o encontrar…
…mas não hei-de morrer sem o procurar…




texto por Isabel Reis
foto por Pedro Sarmento

todos os direitos reservados

Recanto Longínquo...


No lado mais longínquo do mar... onde a água nos seca... e a areia nos molha os pés... onde a lua se passeia de mão dada às nuvens e o sol toma conta da noite estrelada... nesse lugar... onde os girassóis amarelos se pintam da cor dos sorrisos... e as mãos se tocam num só olhar... nesse lugar... nesse lugar encontrei o meu reino de encantar... aí sorrio.




No canto mais rochoso da terra... onde as rochas são de veludo e as escarpas nos tocam e arrepiam qual dedos de cetim... nesse canto esquecido por todos… lembrado por nós... é lá que encontras o jardim que te deixei recheado de recordações para te fazer sonhar sempre que voltares...



No céu onde os pássaros que nos rodeiam ao chegar se vestem de penas brancas qual nuvens de algodão e nos sussurram ao ouvido histórias de sonhos por sonhar... onde nos cantam histórias de amor por cantar... onde a relva em que rolamos deliciados em sorrisos e gargalhadas se cobrem de amarelo para nos agradar… aí onde nos perdemos a olhar a lua vestida do teu olhar radioso… nesse canto onde agora sentes o aroma das flores silvestres vestidas de memórias... onde relembras o meu corpo nú ser assaltado pelas gotas da água que nos cercava, o brilho do sol que nos sorria… aí nesse lugar fizeste-me prisioneira de um sonho… e eu fiz-te prisioneiro de mim...




texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Lençois de Seda...



Lençóis de seda e branco puro
Onde me guardas num guardar seguro
Onde me inventas de todas as cores
Onde me provas em mil sabores…

Lençóis que se estendem pela madrugada
Que se enrolam na preguiça duma alvorada
Que se deixam rasgar em gestos discretos
Que se deixam guardar em sonhos secretos…

Lençóis onde o passado/presente fica esquecido
Onde o futuro já não faz sentido
Onde o mundo pára de girar
Onde o tempo deixa de contar
Onde o sonho vem para ficar…


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Chegou a noite...


Chegou a noite… passei o dia inteiro à espera dela… à espera dos sonhos que ela me traz… sonhos salpicados de um azul quase negro… mas ainda assim azul… aconchegados numa lua que hoje se vestiu de algodão rosa e doce só para vir ao meu encontro…
Chegou a noite e eu deixei-me levar no embalo do seu chegar silencioso… dei ao mão ao seu sorriso, no sorriso de retorno… recebi o gosto do seu beijo demorado… sabia a morango com um ligeiro travo a canela… e… esqueci-me de entrar no sonho… já dei por mim a sonhar…
Chegou a noite regada a chocolate derretido em momentos curvilíneos de estradas percorridas sem sair do lugar… de horas perdidas num deserto de areia quente, mas sedutor… vazio de nada, tão cheio de tudo… onde a sede desperta a cada passo percorrido… mas somente o calor é capaz de a saciar…
Chegou a noite e eu que já esperava por ela abracei-a ao chegar… beijei-a ao de leve, afaguei-lhe os cabelos e sussurrei-lhe ao ouvido o quão bom é senti-la chegar… o quão bom é ouvi-la sorrir… o quão bom é pode-la tocar… o quão bom é faze-la sentir… sentir que estou cá quando ela chega… mas também quando não consegue chegar.



texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Relógio do Tempo...


Pudesse eu parar o tempo naquele momento…
…e ainda estarias aqui…
Pudesse eu fazer um segundo durar horas sem fim…
…e os teus lábios ainda estariam nos meus…
Pudesse eu levar o compasso ao ritmo do meu passo
…e os nossos corpos ainda seriam um só…
Pudesse eu impedir o comboio de largar a estação…
…e seria ainda nossa essa ilusão…

Fosses tu o relógio que comanda a vida…
…que eu me deixaria entregue a ti…
Fosses tu raio de sol que se esconde da noite…
…que eu me esconderia em ti…
Fosses tu a sombra que fica esquecida…
…que eu nunca me esqueceria de ti…
Fosses tu a lágrima que cai do olhar…
…que eu seria olhar só para te sentir…
Fosses tu o amor que abraça o ódio…
…que eu seria ódio para que me abraçasses…
Fosses tu comboio que percorre o caminho…
…mas caminha sozinho… e eu caminharia contigo…
Fosses tu desejo que eu seria sentimento…
Fosses tu o relógio que eu seria tempo…
…para ser tua cada momento…
…que te quisesses para mim…


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Ruínas...



Ruínas que ficam em nós… por mais que o tempo corra…
…marcas de um passado que nada mais é do que isso…
…mas que apesar de tudo… será sempre nosso…

Alicerces cravados na alma que somos
…sem intenção de querer partir...
…na certeza que não lhes podemos fugir
…na demência do que nos faz sentir…

Pedras velhas… gastas pela vida
…a nossa vida… esta minha e tua…
…marcada num momento…
…vivida em qualquer rua…
…abandonada no espaço de tempo…
…em que me largaste ao esquecimento …

Raízes que se vão apoderando…
…do que não é seu para apoderar…
…de uma alma por curar…
…de uma vida por recuperar…
…de um mundo por resgatar…

Ruínas o que temos…
…não quem somos…
Alicerces em nós…
…mas que se podem derrubar…
Pedras velhas que nos rodeiam…
…mas que se podem restaurar…
Raízes bem profundas…
…mas que se podem arrancar…


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Memórias de Infância...


Nas memórias daquele tempo…
…revivo um mundo que ficou para trás…
…recordações de sorrisos… mas lágrimas também…
…lágrimas pelas asneiras que não planeei fazer… mas fiz
…sorrisos traquinas pelas que fiz e consegui escapar…
…pelos momentos que são meus para guardar…

Nas ondas de um mar sereno/tempestuoso…
…ouço gargalhadas de crianças onde me reencontro…
…jogos da bola onde me esqueci das horas…
…tombos perdidos na areia fina…
...a voz doce de uma certa menina…

No céu escurecido/envelhecido…
…pela tempestade que se avizinha…
…revejo o tempo de voltar à escola…
…quando a brincadeira ficava p’ra trás…
…quando espreitava pela janela…
…relembrando o verão que já não via nela…

Num pontão perdido no espaço…
…namorado apenas pelas ondas do mar…
…em que as visitas já não são crianças…
...mas saudosistas querendo “voltar”…
…regresso também… mas em passos crescidos…
…sonhando um tempo que já lá vai…
…lembrando sonhos até agora esquecidos…
…resgatando sorrisos um dia vividos.


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Quem sabe...

A madrugada encontrou-me hoje carente de um bom dia teu... um bom dia único, daqueles que só tu me dás... hoje acordei com fome de ti... dos teus dedos suaves a percorrer a minha pele... o meu corpo... até me chegar à alma... acordei com fome do calor do teu beijo a aquecer-me o coração... com fome da tua voz no meu ouvido a dar-me aquele "Bom dia…" sussurrante que me faz viajar…

O dia fez-me acordar contigo do meu lado... e o meu sorriso rasgou-se de orelha a orelha quando me tentei chegar um pouco mais em busca desse teu cheiro, que já chegava a mim ainda eu viajava nos teus braços no mundo dos sonhos, tu foste-te... desvaneceste-te como fumo à minha frente... e eu fiquei desconsolada por acordar... por ver que apesar de acordada ainda continuava a sonhar...

Quem sabe… talvez a noite te traga de volta ao meu colo como naquele tempo… aquele onde nos cruzamos… onde nos vivemos… onde nos entregamos…
Quem sabe… talvez as estrelas me façam hoje adormecer no teu colo como quando me carregaram nos seus braços para me entregarem delicadamente nos teus… e onde juntos vimos a noite estrelada em tons de um amarelo sonhador… e onde adormecemos nas réstias de um amor amado… nas gotas de um suor cansado… na promessa de um “até já” de sonhos… sonhos de um amor sonhado.



por Isabel Reis
todos os direitos reservados

sábado, 28 de agosto de 2010

Encantamento

Hoje estou com a "pele" à flor da pele... hoje estou com o sonho a querer voar pela noite dentro... e de estrela cadente em estrela cadente chegar perto de ti... beijar-te ternamente, deitar-te no meu colo e fazer-te/ver-te dormir até que a manhã chegue...

Hoje estou contigo no meu colo e não te quero deixar partir… quero que o tempo se demore pela noite adentro, que as estrelas se encantem neste nosso encantamento… e que a lua se demore a deitar…

Hoje estou contigo em pensamento… na empatia de um momento… na empatia que virou sentimento… empatia que nasceu do encantamento de nos sabermos encantar.


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Estás comigo e em mim...

Estás comigo e em mim... até mesmo quando não estás... até quando a lua se deita e é o sol quem me acompanha e me mima, tentando fazer-me esquecer a saudade que me queima por não te ter... desiste... não consegue... deixa que a lua volte... quem sabe... talvez consiga.

Estás comigo e em mim... até nas horas que não te lembro... que não te sinto... nas horas que te desejo sem saber…

Estás comigo e em mim... e a lua volta... sinto-a chegar... mesmo sem a ver… volta imponente num céu só seu... volta uma vez e outra mais, intervalada por um sol teimoso que não me larga... juntos vão tentando arrancar-me de ti com os seus carinhos desmedidos... tentam fazer-me esquecer o teu toque nos raios de sol quente que me acariciam... tentam arrancar-me o teu cheiro numa praia de areia fina, salgada por um mar que não a consegue deixar... tentam impedir-me de te sonhar oferecendo-me de bandeja um céu pintado a estrelas cadentes com os suspiros das ondas a embalar-me os sonhos… tentam pela calada que te esqueça… mas…
…mas tu estás comigo e em mim até mesmo quando não estás… ou não queres estar… entraste em mim lentamente… tão lentamente quanto me deixaste a ti chegar… sem nenhum dos dois perceber o que se estava a passar… e agora de mim já ninguém te consegue arrancar.


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sede de mulher...


Fui em busca de ti… sem ver
Sem o pensar ou até saber…
Fui como que perdida
Seguindo o rasto de um cheiro
Que julguei familiar
Dei de encontro contigo…
…senti-me voar…

Despi-me então de uma vida
E do que nela me prende
Deixei que o corpo nú… te tocasse
Que o olhar ansioso… te procurasse
Que o coração solitário… te sentisse
E que a alma sedenta… t’encontrasse.

Ao chegar tomaste conta de mim
Sem pensar deixei-me levar…
Entreguei nessas tuas mãos
Este amor que me consome
O desejo ardente que me transborda
A saudade louca que ninguém quer
Apenas sede de mulher
Numa busca por encontrar
O amor que não soube amar…


Texto por Isabel Reis
todos os direitos reservados

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Conversas de Supermercado...


A história que vos conto é toda ela verídica… Não identifico os intervenientes… porque também não os conheço… e assim não também não tenho necessidade de lhes dar nomes falsos para que ninguém os possa identificar… :D… E aconteceu-me este sábado quando passeava com uma amiga num hipermercado bastante conhecido mas que não divulgo porque isso seria fazer publicidade gratuita e não sou assim tão benemérita quanto isso…

Ora então quantos de nós enquanto andamos a fazer compras apanhamos conversas a meio que não fazemos intenção de ouvir mas que a proximidade propicia a isso mesmo? Julgo que quase todos… conversas daqueles que como nós desesperam na luta por decidir o que comer, ou o que falta em casa na despensa mas que poucos se lembram de anotar antes de fazer a tão malfadada “viagem” ao hipermercado da zona e ter que encarar as caixas cheias de gente cansada e aborrecida, os corredores a transbordar de “turistas” indecisos e o ar saturado que nos deixa a todos com um mau humor terrível se passamos lá mais tempo do que o desejado.

Pois então íamos nós na busca por uma melancia madura e suculenta que nos refrescasse a noite quente e abafada… culpa de um calor doentio que nos ataca impunemente e deixa a todos de pele pegajosa, mesmo que tenhamos acabado de sair de um banho frio… Íamos nós nesta demanda quando passamos por um casal com um ar muito desolado e abatido junto da banca cheia de fruta fresca e apetitosa, acabada de sair do frigorifico onde permanece guardada mais tempo do que deveria, de forma a manter-se com aquele aspecto sedutor que dura pouco mais do que a viagem do dito hipermercado até ao destino…

A minha amiga ia um pouco mais à frente, ou eu é que tenho um passo mais lento/pequeno (vá-se lá saber), sei que por isso não apanhou a conversa do dito casal a meio como eu… e não passou a vergonha que eu passei já que tem reacções que são simplesmente incontroláveis e a minha foi…

Dizia o rapaz para a namorada com um ar bastante esperançoso quando eu me chegava perto… (e relembro que apanhei a conversa a meio, ele já falava quando passei)
-…queres fazer… amor?
Ao que ela responde com o ar mais desolado… abatido e enfadonho que já vi nos últimos tempos… (quem sabe culpa do dito calor doentio)
- Nãooooo (diz desoladamente)… dá muito trabalho…

A minha reacção mostrou-se automática… desatei às gargalhadas e sozinha que estava o povo em redor tomou-me por tolinha… (quem sabe serei, mas perante uma conversa destas só dava para rir mesmo).

É certo que deduzi perfeitamente que o rapaz não deveria estar a perguntar à querida se queria fazer O TAL DO AMOR… e sim outra coisa qualquer… mas a conversa foi apanhada a meio como disse… e teve o efeito instantâneo de me arrancar um acesso de gargalhadas e tornar a malfadada “viagem” bem mais divertida… certo é que passei o resto da viagem mais atenta aos “turistas” em meu redor… para ver se tinha a sorte de me cruzar com mais uma pérola destas… e por acaso até tive… mas essa é um pouco indecente para contar aqui onde passeiam olhares menores e não quero ser culpada de corromper a inocência infantil… :)


texto por Isabel Reis
todos os direitos reservados

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Gargalhadas cozinhadas

Lá no alto daquela serra
Onde t’entregaste… eu m’entreguei
Onde fui rainha… tu foste rei
Onde o rio perante nós se curvou
Naquela serra qu’ o nosso riso desbravou…

Fomos/viemos ao sabor do vento
Naquele gosto tão a contento
Que trouxe com ele a canção
Que se ouviu e se sentiu
Na partitura do coração…

Música nascida ao nosso jeito
Nas gargalhadas tão a preceito
Cozinhadas em tachos de papel
Temperadas a sal que sabe a mel
Gravadas em memórias de cordel
No sonho que carrega o carrocel…


texto por Isabel Reis
todos os direitos reservados

Quem me diz...


Labirinto este onde vagueio
Sem rumo… E com destino incerto
Onde o copo já vai mais de meio
E a tempestade já está perto…

Não consigo lembrar como cá cheguei
Nem sequer o lugar de onde parti
Será que vim à força ou m’atirei
Porra… quem me diz como cheguei aqui???

Alguém pode m’ajudar a perceber
Será que foi vontade de esquecer,
Ou não lembro mesmo de o ter feito?

E esta angústia no meu peito?
E as perguntas que ficam por fazer?
Sinto que parto sem chegar a saber…



soneto por: Isabel Reis
foto por: Nuno Tavares
todos os direitos reservados

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Espaço de tempo...

Agora que a noite está a chegar e no entanto ainda não chegou... apetece abraçar-me... sorrir-me... sonhar-me... encantar-me até… agora que o sol já se põe no horizonte e a lua vai subindo o céu lentamente... como se se sentisse envergonhada ao vir ocupar um lugar que é seu por direito... um lugar que tantos veneram, desejam… anseiam….

Agora que o sol se põe ao de leve, cobrindo a cores de fogo e magia o horizonte longínquo... e enquanto aguardo que a lua me banhe com seu encanto lunar... nesse espaço de tempo em que já não é dia... mas também ainda não é noite... nesse espaço de tempo que não pertence a ninguém e que eu reclamo por agora... nesse espaço de tempo eu permito-me sonhar...
...sonho que estás aqui... ainda... que te sinto tocar-me ao de leve como se me conhecesses desde sempre… como se sempre tivesse sido tua... como se ainda o fosse... sonho que esse manto de pele leitosa a lembrar a via láctea coberta de estrelas e planetas… a lembrar um espaço inteiro por descobrir... por amar como merece ser amado… como eu gostava de amar… sonho que esse manto que tanto me fascina descansa aqui do meu lado enquanto me permito fechar os olhos e gozar este nosso momento suado… neste nosso espaço de tempo sem tempo.

Entretanto a noite chegou a este espaço de tempo e nós permitimo-nos ficar um pouco mais no deleite… neste sonhar acordado com um mundo que até agora desconhecíamos, mas no fundo até esperávamos… Sonhamos com a maresia a tomar-nos o corpo de assalto e deixamo-nos mergulhar de olhos fechados como se o mar sempre tivesse sido nosso… e juntos na irracionalidade partimos em direcção ao horizonte, na esperança de tocar a lua no preciso momento em que ela se revela… quem sabe talvez assim a sua magia ao tocar-nos eternize este nosso espaço de tempo continuamente e não tenhamos mais que nos afastar… e talvez quem sabe… em vez de me sonhar, de me sorrir e de me encantar… eu passe a sonhar-te, a sorrir-te, a abraçar-te… enquanto tu me sonhas, sorris e abraças também… no mesmo espaço de tempo… no mesmo momento… neste nosso tempo.

Quem sabe assim este nosso espaço de tempo tão sonhado… tão desejado… passe a ser o nosso espaço de tempo… continuado.


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

sábado, 31 de julho de 2010

Quem consegue???

Percorro estas ruas e avenidas
Nesta minha cidade de mil encantos
Após as chegadas temos as partidas
E nos olhos… as enxurradas em prantos…

Relembro noites de colo e ilusão
Em que sem pensarmos… foram mais que paixão
Em que sonhamos o sonho sem o sonhar
Em que partilhamos o mundo sem falar…

Com tua partida veio a tristeza
Que às nossas dúvidas trouxe certeza
E junto… a saudade da incerteza…

Agora resta-me apenas a questão
Quem controla mesmo o amor… a paixão??
Quem consegue… impor regras ao coração??


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Nas palavras confesso...

Nas palavras confesso…
um amor sem regras ou explicação
amor sincero… sentido… vivido…
nascido em cada canto nosso escondido
em cada momento partilhado
em cada segredo sussurrado…

aproveito-me das palavras e confesso
segredo em segredo tudo que não fui capaz…
…enquanto te tive aqui… comigo…
à distância de um estender da minha/tua mão
enquanto vimos o sol despedir-se na água
e a lua acordar para o mundo…
…naquele anoitecer tão nosso… tão profundo…

Nas palavras confesso…
que me deixei ser só tua nas horas poucas que vivemos
naqueles dias que de tão intensos foram como anos inteiros
cheios de vida e amor… amor vivido em toques certeiros
e agora depois de tudo isso não me apetece entregar mais
apetece-me viver aquele amor tão nosso… um pouco mais
apetece-me prolongar aqueles momentos de romantismo e sedução
em que nos seduzimos inconscientemente… arrebatadoramente…
apetece-me reviver constantemente aquelas horas de perdição
que nos levaram a uma outra dimensão…ou realidade…
…e que na volta trouxeram consigo esta louca saudade…


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

terça-feira, 27 de julho de 2010

Esperança

Qual Cinderela encantada
Nos prados e montes a passear
De vestido florido… saia rodada
Espera ansiosa a donzela
Espera a sua chegada…
Olha o horizonte ao longe
Mas nem a sombra vislumbra
Suspira, vê o sol ao longe se guardar
Mas sorri e pensa
“Ele não tarda em chegar”…

Vai colhendo flores pelo caminho
Picando-se nos espinhos que não vê
Tropeçando nas pedras que não espera
Mas sorri e pensa
“Ele não tarda em chegar… e tudo vai passar”…

De cabelo esvoaçando ao vento
Passeando-lhe junto ao corpo
Relembra-lhe a saudade
De quem está para chegar
Rasga-se-lhe um sorriso no rosto
Sente um arrepio no ventre
Desce às pernas rouba-lhes a firmeza
Invade-lhe a alma o sentimento
Traz-lhe a sombra da incerteza
“Será que devo ou não esperar?”…
Vem-lhe então à lembrança
O voto solene de confiança
A promessa de voltar
“Não posso ter medo… vou ter que confiar”
“Nem que veja o sol se deitar e a lua se acordar”


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Re/Encontro...

Chegaste como qualquer desconhecido
Parece qu’ apenas agora t’encontrei
Senti-te como antigo conhecido
E novamente em ti me reencontrei…

Tive-te em mim nesse leve suspirar
A cada toque qu’ encontrei o ombro teu
Na ternura de cada troca de olhar
Descarreguei este pesado fardo meu…

Entreguei-me rendida a ti… fui ao céu
Entreguei-me acordada mas a sonhar
Venceu a razão… chegou p’ra me resgatar…


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

terça-feira, 20 de julho de 2010

Sonho o SONHO

Sonho um sonho cheio de cor
Mas que não sei dizer como é
Se o quiser descrever não vou saber
Sei unicamente que é da cor do amor
Sei somente que sabe a desejo e a dor
Sei apenas ao que cheira como se estivesse à minha beira
Como se o sonhasse acordada
Cheira a maresia e espuma salgada
Que ao som do vento dança e balança
Que abraça a praia ofegante
Envolto em amor quente e vibrante
Rodeado de paixão escaldante
De um desejo desesperado
De um fogo inacabado…

Sonho um sonho cheio de cor
Do qual não sei acordar
Em que fecho os olhos e estou lá
E ao abri-los continuo a sonhar
Sonho um sonho cheio de cor
Do qual NÃO quero acordar
Onde sem precisar descreve-lo
Sei que sonho o sonho que todos sonham sonhar.


texto por Isabel Reis
todos os direitos reservados

sábado, 3 de julho de 2010

Aquele abraço...

Aquele que te dou sempre
E que dou sem que o peças
Aquele que é teu por direito
Conquistado passo a passo
Em cada sorriso, em cada momento
Aquele abraço… o ABRAÇO…
Esse abraço que é só teu… só meu… só nosso
Já que nossos são os braços que se abraçam…
…os cheiros que se misturam…
…os olhos que se cruzam…
…os sentimentos que os despertam.

Aquele abraço que me deste… que me dás…
Aquele que te dei e que te dou…
Esse abraço está sempre aqui à tua espera…
…à nossa espera… só nosso... tão nosso…
Esse abraço onde dizemos tudo…
Onde sentimos tudo…
Onde vivemos tudo…
Onde somos tudo que sonhamos ser.


por Isabel Reis

Perdida de mim...

Perdida de mim...
…encontro-me na noite entre silêncios e vazios
Dou comigo em sorrisos que não sinto
Em espaços que já não reconheço
Em mundos que foram meus…
…mas já não são…
Chamo-me baixinho…
Tento ouvir-me neste silêncio tão sonoro…
É difícil… não desisto e chamo outra vez…
Lá me ouço e dou conta de onde estou…
Estou presa num passado que teimo em guardar
…e me faz parar… deixar tudo…
Sinto um futuro fugir-me entre os dedos
Enquanto tento à força agarrar este presente que me foge…
Estou presa a coisas que senti e já não sinto mais
Presa num engano pela saudade do que um dia foi…
…mas já não é…
Presa na confusão que em mim mora
Deixo a vida passar-me ao lado
Deixo-a viver sem mim...
Recuso levantar-me para a resgatar.

Nesta inércia absurda que me retém
Olho-me nos olhos… vejo a verdade e choro
Falo comigo… forço-me a encarar a realidade…
…e percebo…
Não quero saber do passado
O passado nada é mais que uma recordação…
…e percebo…
Não tenho medo do futuro
O futuro é a incógnita… o sonho… o objectivo…
…e percebo…
Tenho medo é do presente porque é bom
Tenho medo de o perder por ser tão bom
E quando as coisas não correm tão bem
Porque até o bom tem dias maus
Aí eu fujo…
…fujo no medo de o poder perder…
E no medo de o poder perder
Deixo-o ir… E acabo mesmo por o perder.


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Com vontade de ti - parte 2

Regresso à realidade…

Passada uma semana desde aquela noite e já não sabia estar sem ti… como se fizesses parte do meu ser, como se precisasse de ti para sobreviver. Acordava pela manhã e ainda antes de abrir os olhos para o mundo já sentia aquela vontade de te sentir, de te respirar… de te ter em mim. Tudo que tinha vivido até ali me parecia agora tão distante e sem sentido, que quase parecia ter sido a realidade de outra pessoa qualquer menos a minha.
Ainda lembrava nitidamente aquele cheiro da tua pele pela manhã, um misto de paixão recente, com um toque leve do café com leite que tinhas acabado de fazer quando insanamente te roubei e estendi naquele balcão. E se aquele balcão falasse… que loucuras testemunhou naquele dia e nos muitos que lhe sucederam durante aquela semana… nunca mais o consegui olhar sem sorrir, sem me lembrar de ti vulnerável a olhar-me com prazer e loucura.

Uma semana inteira só para nós… tu de férias tinhas todo o tempo do mundo para mim e para a minha loucura de ti… eu… eu lá me encarreguei de arranjar uma virose qualquer e fazer daquela semana a nossa semana… a semana das nossas vidas… acontecesse o que acontecesse no futuro… agora no presente e depois daqueles dias nunca mais nada seria igual ao que era antes… fizemos justiça à famosa expressão “Carpe Diem” e aproveitamos cada momento ao máximo e agora… agora o nosso mundo estava diferente, nós estávamos diferentes. Sem contar com isso tínhamos mudado o rumo das nossas vidas irremediavelmente…

Mas agora que a vida nos forçou a voltar à realidade, acordei hoje pela primeira vez sem o calor do teu corpo junto ao meu e um vazio estranho apoderou-se de mim. Nunca ninguém tinha tido esse efeito em mim, aliás, normalmente as minhas relações não duravam mais que umas semanas, não gostava de me sentir dependente de ninguém fosse de que forma fosse… e agora, como um vício que nos agarra, senti-me ressacar perante a tua ausência. Olhei para o relógio ao lado da cama e vi que estava na hora de sair da cama. Levantei-me de ombros caídos, abri as persianas e nem a luz do sol radioso que se fazia sentir me fez sorrir… lentamente dirigi-me para a casa-de-banho, abri a água para tomar um duche e recordei o nosso primeiro banho… aquele em que nos fartamos de rir porque estiveste uns bons dez minutos à espera que a água arrefecesse antes de entrar… disseste-me que não eras camarão para cozer… eu ri e sorri… ali na banheira pude apreciar a visão de teu corpo de pé em frente ao espelho enquanto esperavas que a temperatura da água ficasse mais do teu agrado. Pude memoriza-lo ao pormenor… memorizar cada linha… cada um dos sinais que tão maravilhosamente tinhas espalhados em ti, quase como se tivessem sido desenhados.

Forcei-me a parar, tomei o duche rapidamente, vesti-me e saí para trabalhar. Cheguei à empresa sem dar pelo trânsito sequer de tal forma o meu pensamento voava constantemente até ti e ao que estarias a fazer naquele momento, se já estarias acordada ou se ainda preguiçavas lentamente, nua como era teu hábito, apenas enroscada nos lençóis… que visão era ver-te dormir. Apesar de tudo fui uma das primeiras pessoas a chegar, pousei as coisas no escritório e fui tomar um café para ver se acordava de uma vez, já que o duche não tinha tido esse efeito. Ao chegar à máquina já lá estava uma das colegas que costumava ser tão madrugadora quanto eu.
- Bom dia Fernanda… disse eu.
- Bom dia, então como está?
Por momentos nem percebi a pergunta, mas rapidamente percebi que se referia à alegada virose que me tinha feito ficar em casa.
- Estou melhor sim… obrigado. Foi apenas mais uma dessas viroses tão típicas nesta altura do ano.
- Pois eu sei, lá por casa os meus filhos também já andam, sabe como é nas escolas, não escapa ninguém, não tarda estou eu também.
Mas não, não sabia… trinta e cinco anos e não tinha nada e nem nunca tinha tido ninguém a sério… muito menos filhos. Nunca tinha mudado uma fralda ou aquecido um biberão, mas o certo é que nunca tinha reparado nisso até aquele momento. Até agora a carreira era realmente o principal objectivo da minha existência, dedicava-me à advocacia por inteiro e a justiça criminal dava-me um gozo fenomenal… agarra-me a cada processo com unhas e dentes e gostava dos casos difíceis, aqueles que não agradavam a ninguém, mas que fazer, sou mesmo assim, gosto de desafios.

Acabei a conversa de circunstância com a Fernanda, tomei o meu café e regressei à minha sala. Uma semana era tempo mais do que suficiente para empilhar trabalho em cima da mesa, sabia que o dia ia ser difícil… só não imaginava o quanto. Antes de enterrar a cabeça no trabalho mandei-lhe uma mensagem… a ela, à mulher que me tinha tirado do sério… à Susana… “Sinto falta do teu cheiro misturado no meu. Beijo em ti… daqueles molhados”. Ao terminar a mensagem com aquele beijo molhado senti um arrepio de excitação percorrer o meu corpo, que loucura e que mulher aquela. Bem toca a trabalhar disse para mim e enterrei a cabeça no trabalho… o fim do dia estava a chegar quando percebi que nem tinha ido almoçar, pelo menos assim tinha deixado os relatórios todos prontos, restava-me agora esperar que alguém cometesse alguma insanidade rapidamente. Até podia ser um pouco egoísta pensar assim, mas era do que eu vivia, da insanidade dos outros.

Dei uma olhadela ao telemóvel em busca de uma mensagem da Susana, já que não me tinha respondido em todo o dia, apenas para encontrar a caixa de mensagens vazia. Sei que não temos nenhum compromisso, mas desiludi-me um pouco ao perceber que não tinha sentido a minha falta após aquela semana, depois pensei apenas que podia ter acontecido alguma coisa que a impedisse de dar noticias, afinal até eu tinha passado o dia inteiro de cabeça enfiada nos papeis… senti o estômago dar sinais de vida, e apercebi-me que tinha fome, levantei-me e fui comer qualquer coisa antes de dar o dia por terminado e regressar a casa.

Estava na sala do pessoal, quando de repente a televisão desperta a minha atenção com um noticiário de última hora, no rodapé lia-se em letras garrafais “GNR PRENDE MULHER ONTEM À NOITE ACUSADA DE ASSASSINAR O MARIDO À FACADA”… sorri amargamente, enquanto ouço um dos colegas dizer…
- Bem, aqui está mais uma que acabou de abrir os olhos, deve ter descoberto que o marido a traía e em vez de lhe fazer o mesmo vai e passa-se da cabeça… podia ter sido mais inteligente realmente.
- Falta saber mesmo se foi por isso, se calhar até lhe batia… - diz outra voz.
Enquanto iam atirando motivos ao calhas eu tentava ouvir a notícia para perceber se era o caso de ir atrás do caso para mim, quando de repente mostram a fotografia da mulher presa e o meu mundo ruiu… Era ela… a Susana, a minha Susana… Só podia ser engano, não era possível. E casada então é que não era mesmo… e aí parei para pensar… afinal que sabia eu dela, durante o tempo que estivemos juntos não trocamos muitos detalhes pessoais a não ser gostos mesmo… de resto convivemos, amamo-nos, fizemos loucuras atrás de loucuras… no quarto, na sala, na cozinha… enfim… agora não era hora de pensar nisso. Susana tinha sido presa e eu tinha que ir até lá para saber porque.

Quando cheguei à esquadra, disse que queria ver a detida Susana Alves e ao apresentar o cartão da firma com a minha identificação encaminharam-me para a uma sala, onde esperei que a trouxessem. No fundo, no fundo, tremia, tal era o nervosismo e o medo perante aquela medonha realidade, mas por fora não dava a entender a mínima emoção, saber controlar as emoções tinha sido até hoje uma ferramenta muito útil na minha área. Ela entrou e mostrou-se surpresa, não contava comigo ali. Abracei-a profundamente primeiro, absorvendo o seu cheiro e sentindo a maciez do seu cabelo junto a mim, depois sem sequer a deixar sentar, olhei-a bem fundo naqueles olhos negros que me faziam perder a cabeça e perguntei friamente…
- Foste tu?
- Fui eu sim…
Respondeu-me e automaticamente deixou-se cair com um suspiro numa das cadeiras que ali estavam. Eu fiquei em branco e a única coisa que soube dizer foi…
- Mas porquê? Porquê?
- Por ti Clara, por ti… disse ela simplesmente.
E eu sentei-me atónita em busca de uma explicação plausível e a única coisa que me vinha à cabeça era que tinha sido por causa da nossa aventura nos últimos dias, afinal segundo tinham dito ela era casada, mas a verdade que iria descobrir era bem mais medonha do que podia imaginar.


Por Isabel Reis
(aqui está a continuação, espero que gostem e já sabem... enquanto quiserem eu continuo, beijinhos a todos)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Com vontade de ti - parte I

Acordei hoje com vontade de ti, ainda os olhos estavam fechados e já o teu corpo nú passeava na minha mente, conhecia de cor cada traço do teu corpo, embora apenas tivéssemos juntos uma só vez… mas tu não és vinho rasca que se bebe de um só trago para nem sentir o gosto amargo que fica na boca… não… tu és casta única, em que cada trago nos faz sentir Deuses, pois só os Deuses tem poder para desfrutar de algo tão divinamente bom e inesquecível… Decidi portanto apreciar o que tinha no colo e bebi-te pacientemente, saboreei-te em cada toque, em cada beijo, em cada gota de vinho que deliciosamente fazias escorrer em ti…

A noite tinha chegado ao fim quando caímos de cansaço perdidos nos braços um do outro, envolvidos no calor da paixão que ainda se fazia sentir, encharcados num suor delicioso tão nosso… adormecemos com a pele húmida, sem vontade de apagar os vestígios da paixão que tínhamos vivido naquele quarto. E agora ao acordar tu já não estavas aqui apesar do teu lugar junto a mim ainda estar deliciosamente morno, a sussurrar o teu nome com prazer… Deixei-me escorregar lentamente para o lugar onde as marcas do teu corpo ainda se faziam sentir, para me deixar ficar um pouco mais em ti, deixar prolongar a memória daquele prazer a dois, mesmo contigo ausente. Ao faze-lo fui capaz de te sentir o gosto, o cheiro, o toque quente da tua pele na minha… e de repente, um arrepio percorreu-me o corpo ao lembrar-te… ao lembrar nós dois nesta cama… as loucuras, as horas de amor em que nos perdemos um no outro, em que ninguém saberia distinguir onde acabava o meu corpo e começava o teu… nossos cheiros misturados, criando uma fragrância única a paixão e desejo… a loucura regada de amor.

Levantei-me e saí do quarto tal como vim ao mundo… para quê vestir roupa, quando me vestia de ti… de nós. Ao entrar na sala vi os vestígios deixados por nós na noite anterior… velas de odor a canela espalhadas cuidadosamente na noite anterior quando disseste que sim ao meu convite para jantar, dois copos de vinho meio esquecidos entre as pétalas de flores agora murchas… hum, que bom recordar aquele brilho no teu olhar ao chegares e veres o carinho com que tinha decidido seduzir-te. Sim… porque tinha decidido seduzir-te e tu sabias desde o segundo em que te convidei para jantar… só não sabias que tinha decidido mostrar-te que não eras apenas mais uma conquista… que valias a pena tudo e mais um pouco… que o teu olhar quente fazia-me querer mais do que um olhar… esse teu cheiro não me saciava os sentidos… antes pelo contrário, fazia-me querer cheirar-te mais… e que os teus lábios deliciosamente molhados faziam-me querer passar uma noite inteira a beber-te, a saciar a minha sede que mais parecia vicio, quanto mais te bebia mais sede tinha… Hum que vontade louca de ter-te outra vez aqui… tu não sabes, mas acordei com vontade de ti e nada, nem ninguém me sacia esta vontade, só tu.

Ouvi um barulho vindo da cozinha e pensei que a empregada tinha chegado bem cedo hoje… que pena… ia roubar-me o teu cheiro, os vestígios da nossa noite mais cedo do que gostaria. Decidi voltar ao quarto para me vestir, não estava propriamente apresentável, quando ouvi tua voz chamar por mim… Corri ao teu encontro, tal qual adolescente… Vi-te sem roupa também, visão absolutamente fabulosa… ainda por cima cozinhavas, tinha coisa mais sensual do que ver alguém cozinhar sem roupa, despreocupadamente natural… preparavas o pequeno-almoço… hum… estava no céu. Cheguei por trás de ti e abracei-te, deixei que o meu corpo se arrepiasse novamente ao contacto com o teu e numa fracção de segundos o desejo voltou arrebatadoramente. Arranquei-te ao fogão, beijei-te sofregamente e sem pensar em mais nada deitei-te no balcão da cozinha… queria-te em mim novamente e possui-te outra vez, logo pela manhã a começar o dia… possui-te com vontade, com desejo, com paixão… com amor. Quando nossos corpos se fundiram outra vez e caí de rosto exausto mas satisfeito no teu peito, disseste-me quase em surdina…
- Bom dia meu amor…
- Bom dia…
- Dormiste bem? – perguntou.
- Deliciosamente bem e já agora para que saibas… Acordei com vontade de ti.
- A sério?? Ainda não tinha percebido. – disse numa gargalhada doce mas satisfeita.


por Isabel Reis
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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Digo eu...

Que não percebo para quê tanto alarido, tanta confusão, tanto milhão gasto por alguém que só cá esteve 4 dias, realmente o nosso país sobrevaloriza em demasia… tudo bem, já se sabe que é o Pápa, a individualidade máxima dentro da religião católica, o homem que está entre a humanidade e Deus, segundo dizem, porque em boa verdade até tenho fé, mas não acredito na religião conforme o Homem a prega (seja ela qual for). Mas continuando… se ele é a personalidade máxima que representa Deus na terra e tendo em conta que segundo esses mesmos entendidos, Deus enviou Jesus à terra para unir a humanidade, ensiná-la a ajudar o próximo, a partilhar os seus bens com os desfavorecidos e no meio da crise mundial em que nos afundamos cada dia mais, será que é mesmo necessário gastar tanto dinheiro?? Por acaso o Pápa come ouro para que quase lho despejem em cima aos potes??? Não seria mais inteligente pegar em grande parte desse dinheiro e ajudar a diminuir o défice orçamental em vez de o aumentar?? E se com todo esse dinheiro ajudassem a encher a barriga de tanta gente que passa fome no nosso país, ajudassem a vestir e calçar tantos que por aí andam que vivem para além do limiar da pobreza mas que os nossos políticos fingem não ver, afinal se virem terão que abdicar de muitos dos luxos a que se dão ao luxo de usufruir.

Além de que, estamos a gastar dinheiro que não temos e que os nossos governantes pretendem tirar aos nossos (já de si magros) ordenados. Dizem eles que temos que nos unir e fazer sacrifícios, que estamos todos no mesmo barco e que é para o bem geral… Mas se é para o bem geral, porque razão eles com ordenados milionários vão apenas descontar 5% dos seus salários??? Quanto maior a responsabilidade (e o bolso), maior deveria ser o sacrifício pela nação certo??? O Zé-Povinho como eu e muitos como eu, até podem descontar menos em termos percentuais, mas com os “assaltos” salariais, aumentam também todos os impostos, inclusive nos bens essenciais, que só o nome já diz tudo, digamos que dessa forma o rombo na nossa carteira se torna bem maior do que o apregoado… e no fim de contas, feitas as contas, o sacrifício acaba por ser bem mais pesado para aquele que menos tem…

Até porque se formos a ver… eles têm subsídios (e bem gordos) para tudo e mais alguma coisa, comem e bebem que a gente paga, viajam para todo o lado, com todos os luxos a que se acham no direito usufruir, que a gente paga, têm carros estupidamente caros, a consumirem absurdos em combustível porque a gente paga, vestem do melhor e mais caro que anda no mercado, porque a gente paga, tudo isso pago com os ditos subsídios a que se dão ao direito de usufruir como políticos que supostamente deviam trabalhar para nós, mas se formos a ver trabalham unicamente para os seus bolsos (nada magros por sinal)… esses mesmos subsídios são pagos com o nosso dinheiro, com o nosso suor, com os sacrifícios que temos vindo a fazer ano após ano e que nos levaram à dita crise em que agora nos vemos mergulhados. Claro que com tudo isso podem dar-se ao luxo de cortar nos salários e subir aos impostos… Ainda criticam o Fidel Castro… em Cuba eles até podem não ter o que comer e viver em repressão, mas pelo menos ainda tem certas coisas garantidas, como a faculdade por exemplo, nós aqui nem sequer a reforma temos como certa, mas descontamos todos os meses para ela, na esperança de chegarmos à velhice e podermos deitar a cabeça na almofada seguros de que teremos como sobreviver… nada disso… nós descontamos isso sim para pagar a pançudos que usam e abusam do nosso dinheiro, nos afundam cada vez mais numa crise sem precedentes e depois apregoam aos quatro ventos que temos que nos unir todos nas horas de aflição.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Encontro

No rescaldo deste nosso encontro que não sendo encontro acabou por ser… ainda te sinto bem aqui junto a mim mesmo sem teres estado, ainda te sinto tocar-me mesmo quando não o fizeste, ainda te sinto beijar-me mesmo que o gosto do teu beijo me seja desconhecido… Na paixão desta minha urgência em te conhecer, descubro um mundo novo que até aí desconhecia… é bom conhecer-te cada dia um pouco mais… sempre que estamos juntos mesmo à distancia… é sempre um dia com algo novo que vale a pena sentir/descobrir, é sempre um dia que me fica no registo de memórias a guardar.

Deixo-me ir neste emaranhado de sensações novas, deixo-me levar na onda de uma maré diferente, tão diferente como todas são… nenhuma onda é igual à anterior… assim como nenhuma delas nos toca do mesmo jeito. Deixo-me ir e descubro-me a mim uma outra vez… em cada instante que te vou descobrindo a ti… gosto do que te encontro, assim como gosto do que vou encontrando em mim… Gosto de ti por muitas coisas, nomeadamente essa tua franqueza e genuidade que me arrebatam os sentidos, mas no fundo, no fundo eu confesso que não sei… se gosto assim de ti por seres como és, ou se gosto ainda mais pelo tanto de ti que desperta/compreende o muito que vai em mim.

Assim neste nosso encontro que não sendo encontro acabou por ser… estendo-te a mão de longe e deixo-me ir… deixo o sangue correr-me desenfreado nas veias… deixo o coração bater a mil ao som da tua voz… ao som dessa tua gargalhada franca com vontade… deixo a lembrança do teu olhar, do brilho desse teu sorriso envolver a minha noite… os meus sonhos… e eu sonho ver-te uma outra vez, mas enquanto essa vez não chega vou sonhando… vou bebendo de ti o que ao de longe vais deixando… vou saciando essa tua sede… enquanto a minha sede vou sufocando.


por Isabel Reis
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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dança dos Sentidos

Antes de te ver já te esperava, sabia que virias e o meu olhar percorria o espaço à tua espera enquanto não chegavas, incapaz de ouvir, falar, raciocinar, incapaz de ser. Ansiava pelo nosso encontro como se fosse o primeiro e na realidade até era. Mas ao sentir o teu cheiro reconheci-te imediatamente, embora não soubesse de onde, deixaste-me num estado de embriaguez que já conhecia… de outro tempo, de outra vida… não sei… o que sei é que me foi tão familiar como se ainda ontem o tivesse sentido… como se ainda estivesse na ressaca da ultima vez. Olhaste-me nos olhos e soube que esse olhar já me tinha olhado antes, disse-me o meu corpo numa resposta insana mas urgente, quase podia ouvi-lo gritar o teu nome com saudade… E o arrepio que me percorreu o corpo naquele momento, o calor que me invadiu a alma naquele olhar… esse arrepio deu-me a certeza… a certeza que já te conhecia, que já te tinha tocado, que já te tinha provado, que o meu corpo já se tinha perdido no teu infindavelmente. Faltava-me saber quando, onde, até mesmo como… porque nesta vida não tinha sido, jamais teria sido capaz de te esquecer. Estivemos à distância de um olhar e a tua respiração roçou-me a pele enquanto falavas… ali naquele momento breve o desejo invadiu-me descontroladamente… ah, como quis matar a saudade do que ainda não conhecia, mas que sabia já ter sido meu.

Com um só olhar desafiaste-me a entrar nessa aventura contigo… na aventura do querer saber quem tínhamos sido. Fizeste-o sedutoramente sem falar mas em jeito de criança traquina e em jeito de criança traquina eu disse sim… Disse-o porque algo me disse a mim que as nossas almas já se tinham cruzado antes. Esta sintonia de sentidos e quereres não se consegue num primeiro encontro, nem sequer numa primeira vida… ainda para mais quando esse momento, esse breve momento não passa disso, breve… breve para os outros, mas interminável para nós, capaz de nos deixar num êxtase total capaz de esquecer o mundo à nossa volta, levando-nos para uma realidade paralela onde só nós existimos, onde o tempo pára e nada mais interessa, nem as palavras. Soube naquele instante que te queria, que queria cair nos teus braços e deixar que me tomasses como tua… soube naquele instante que só voltaria a ter paz quando te descobrisse… novamente, quando te conhecesse… uma outra vez, quando te tomasse como meu nesta vida… como sabia já ter feito em tantas outras antes desta.

Por isso vem… vem resgatar-me à saudade do desconhecido. Vem tomar-me em teus braços e partir em direcção ao horizonte sem destino traçado. Por isso vem… vem cavalgar comigo nas asas do vento, num só salto chegar ao céu… conhecer-lhe o firmamento, fazer dele o nosso leito de amor, cobertos apenas pelo manto das estrelas, iluminados somente pela luz ténue do luar… Por isso vem… vem comigo dançar esta dança que se dança nua, despida de tudo e mais alguma coisa… de vidas e preconceitos, de corações partidos e sonhos desfeitos… de amores mal vividos mesmo parecendo mais que perfeitos. Vem que te quero enquanto a noite não chega, vem que te espero em desespero.



por Isabel Reis
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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Máscara

Aquela que uso quando o sol se esconde e as nuvens ameaçam chover
Aquela que tiro da gaveta quando o dia vai longo e o chefe vem difícil
Aquela que me devolve a segurança quando EU mesma me falho…

Máscara para um EU que ficou perdido no silêncio da noite
Para uma alma ferida com medo de enfrentar o dia
Para uma lágrima que ameaça cair mas resiste
Para um sorriso que mesmo encarcerado não desiste.

Trago-a comigo para me sentir segura
Trago-a comigo mesmo que não lhe dê uso
Trago-a comigo para que ninguém veja como sou…
…e eu sou aquela máscara que ninguém sonhou.


por Isabel Reis
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quarta-feira, 28 de abril de 2010

REFÉM...

R efém desse teu abraço… eu me abraço
E dou por mim perdida na loucura do anseio quando não estás
F aço-me de esquecida e voo ao encontro desse teu corpo
É nele que o meu desperta e ganha vida
M ergulho-me em ti e aproveito para me lambuzar… sei lá quando será a próxima vez…

R efém do desejo que me despertas
E ncontro o meu corpo durante a noite numa cama vazia
F echo-me no sonho da lembrança enquanto essa lembrança me sacia
É loucura eu sei… mas é uma loucura que me deixa suada e saciada
M elhor viver refém dessa loucura… do que refém da loucura que é ter nada.

R efém de ti… espero e desespero
E spero cada segundo, o segundo do teu regresso
F ico lembrando o teu cheiro enquanto não chegas
É assim nessa lembrança que o meu corpo suporta a tua ausência
M ergulhado nos restos que ficam de nós a cada vivência.


por Isabel Reis
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terça-feira, 27 de abril de 2010

No sorriso da Lua...

Perdi-me no sorriso da Lua
Encantei-me pelo seu encanto
Deixei-me sonhar que era sua
E o engano paguei em pranto.

Lua vadia e insensível
Que no peito me sentes o sonho
Mesmo ele sendo invisível
No instante em que o sonho.

Não me arrancas ao desengano
Nem à loucura que ele me faz
Ai que não sei quem é mais insano…

S’ eu, tu ou o instante que o traz.
Ai lua que és bela… bendita…
P’ra mim nada mais és que maldita…


por Isabel Reis
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Em silêncio me confesso...

Entrego-me a ti numa promessa vã
Mas entrego-me de corpo inteiro
És a loucura que me torna sã
És e serás amor primeiro…

Vou-te conhecendo sem deixar que me conheças
Neste amor que só a mim confesso
Entrego-me a ti para que não me esqueças
Pelo menos enquanto eu não te esqueço.

Escondo-me nas palavras dispersas
Nas entrelinhas em que me escrevo
Nessas noites em que o teu amor me confessas…

Escondo-me e no fundo sabes que sim
Pois é em meu silêncio que te subscrevo
A ti e a esse amor que tens por mim…


por Isabel Reis
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Fórmula da Vida...

E se um dia acordamos e descobrimos algo diferente em nós??? Uma emoção nova, desconhecida ainda… e se de repente percebemos que essa emoção nova bate bem dentro, bem no fundo… bem naquele cantinho especial que nos faz renascer para a vida quando ela nos parece perdida… e se de repente percebemos que essa emoção vem do nosso coração, da nossa alma, do nosso EU… Que fazer então???

E se de repente essa sensação cresce, vai ganhando uma vida e força ainda antes não sentida? E se ao crescer, nos faz crescer a nós junto? E se acelera o pulsar do nosso coração e nos deixa o batimento cardíaco fora do batimento certo, tal qual adolescentes que apenas agora estão a começar a viver??? E se damos por nós a fechar os olhos, ouvindo musica pairar no ar vinda sabe-se lá de onde, tocada sabe-se lá por quem??? Música essa que mais ninguém ouve a não ser nós mesmos… e talvez quem sabe AQUELE alguém… aquele que os astros alinham no momento certo para o recebermos... aquele alguém que de repente sem saber bem como se sintoniza na mesma frequência em que nos encontramos... E se essa música chega de mansinho… entra lentamente sem bater, apenas se fazendo sentir invadindo-nos o peito numa onda de amor e magia inexplicável… Que fazer então???

O mais fácil não será quem sabe deixa-la chegar, fluir, entrar sem bater, apenas sentir? Tentar primeiro quem sabe viver essa sensação que nos deixa felizes sem razão aparente… que nos deixa de olhar vago mas sorridente, tal qual poeta perdido no mundo dos sonhos… Ah como viver seria bem mais fácil se o Homem não fosse tão complicado… Ah como a vida seria bem mais leve senão teimássemos em procurar defeitos onde eles não existem ainda… Ah como o amor seria bem menos complexo se nos limitássemos a vive-lo sem pensar no amanhã… vivendo apenas o hoje… vivendo apenas esse amor que nos faz amar…

Ah… mas que mania a nossa de mexer no que está tão bem, apenas porque temos medo de ser infelizes e ao deixarmo-nos subjugar por esse medo, acabamos mesmo sendo… Ah… mas que mania a nossa a de deixar quieto o que devia ser mexido… apenas porque temos medo de enfrentar o desconhecido… Mas então… que fazer então??? Ninguém tem a resposta para a vida… até porque não existe fórmula escrita para se viver… cada vida é uma vida… cada existência é uma só…

E é certo que a vida seria bem mais fácil se trouxesse manual… a vida seria bem mais simples se já estivesse escrita… É verdade… seria mesmo… Mas cá para nós… A VIDA seria muito menos VIDA do que na realidade é, se ao chegar a nós já tivesse sido vivida.


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

domingo, 18 de abril de 2010

Acaso


Chegaste por acaso e por acaso percebemos que o acaso já nos tinha feito cruzar noutros momentos e lugares mas só agora a vida decidiu colocar-nos frente a frente. Coincidência? Não creio, tudo tem uma hora um local certo e para nós foi na hora que tinha que ser… nem antes nem depois.

Tocaste-me o coração e de mansinho a alma… meio sem jeito confessaste recear permitir que toquem o teu… acredito que sim e por um lado compreendo, arriscar permitir alguém chegar tão fundo dentro de nós é mesmo isso… um risco… mas se queres saber, a vida para mim é arriscar, cair, levantar, viver para também sorrir. Por isso não te retraias e deixa que te toquem do mesmo jeito que tens a capacidade de tocar os outros, do mesmo jeito que me tocas a mim… deixa e sente aquilo que eu e todos aqueles a quem chegas como chegaste me chegaste… sentimos… deixa e serás abalroado por um turbilhão de sentimentos bons, por uma felicidade inexplicável… e quem precisa de explicações quando está feliz… basta simplesmente estar feliz.

Por isso deixa que eu te chegue… deixa que te conheça mais um pouco… para juntos partilharmos mais sorrisos, pensamentos e vivências… para te dar um abraço quando o quiseres e contar as mil e uma histórias que sempre tenho para contar… para que cada conversa nossa comece a qualquer momento, mas nunca tenha momento para terminar. Para que eu fale e fale de tudo e mais alguma coisa como sempre faço… e para que tu de sorriso nos lábios nunca te canses de me ouvir, na certeza que também eu não me canso de te ouvir.

Que o tempo, os dias e as noites passem sem que nenhum de nós dê conta… que os nossos cabelos se tinjam de branco, a memória nos falhe, as costas se curvem e as rugas se desenhem em nosso rosto sem lhes sentirmos o peso… Se assim for acredita… terá valido a pena o acaso que o acaso nos deu.


por Isabel Reis
todos os direitos reservados

Logo hoje...


Hoje só me queria a mim…
Não queria mais ninguém… só mesmo a mim.
Queria o meu canto seguro e confortável
Onde ninguém mais entra
Onde sou rei e senhor
Onde o mundo gira ao meu ritmo
Mas o mundo lá fora não deixa… reclama-me
O mundo lá fora não permite que me isole… chama-me
Logo hoje… de todos os dias tinha que ser hoje…
…hoje que só me quero a mim…
…hoje que quero esquecer tudo…
…hoje que a vontade me falta de ser eu…
…hoje que só quero tudo menos pensar…
…hoje de todos os dias que passam… logo hoje tinha que lembrar…
…quando o que mais tento é esquecer…
Esquecer o que tivemos… esquecer quem foste para mim
Esquecer acima de tudo… que não te consigo arrancar de mim…


por Isabel Reis
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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sinfonia do Amor

Queres dançar comigo? Acompanhar-me nesta dança sem música? Acompanhar o meu corpo sem coreografia pré-concebida… marcar o ritmo ao ritmo que formos deslizando, embalados ao som da música que for nascendo dentro de nós… Queres mesmo? Então vem. Vem que eu cá te espero… vem antes que comece sem ti e depois já não me consigas apanhar.

Vem… vem escrever comigo uma música nova, desenhar cada nota com delicadeza de pintor e paixão de maestro… vem comigo escrever as notas do amor… Reescrever essa sinfonia que nasceu ninguém sabe quando, ou como… reescrever a sinfonia que sobrevive ao passar do tempo, das eras e gerações… reescrever a sinfonia que nasce em nós e para nós.

Na sinfonia do amor quero conduzir e ser conduzida… quero ouvir e ser ouvida… quero dançar e cantar, quero amar e ser amada. Esta é uma sinfonia que todos conhecem, que já todos ouviram falar, mas poucos são aqueles que sabem como a terminar… Neste bailado, embalado ao sabor do tempo, marcado ao ritmo do momento, muitos são os que tem receio de nele entrar, mas uma certeza existe, não existe ninguém que não queira participar. Porque no fundo, no fundo, é uma sinfonia que todos sentimos, que todos ouvimos, que todos sonhamos tocar, que todos sonhamos inventar.

Vou portanto calçar o sapato de verniz, vestir a saia de roda, soltar o cabelo ao vento… deixar-te prender-lhe aquela flor, aquela que o meu coração anseia. Vou e vou sair por aí de mão dada a ti, deixando-me levar ao teu sabor, levar-te no meu amor, guiar-me através da tua mão em direcção ao pôr-do-sol, em busca da lua e das estrelas… para nelas reescrevermos juntos… A Sinfonia do Amor.


por Isabel Reis
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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tenho um segredo para te contar...

Tenho um segredo para te contar… um daqueles que não é novidade para mais ninguém a não ser para ti… um que já há muito trago estampado no rosto e grito em cada passo que dou… porém, só tu pareces não ver… um segredo que me faz adormecer quando a noite já vai longa e acordar quando o sol ainda se espreguiça ao longe no horizonte. Tenho um segredo para te contar e só receio que não o queiras ouvir… assim como (julgo eu) finges não o adivinhar no meu olhar.

Tenho um segredo para te contar nem que não deva… Mas pior do que não o contar… é guardá-lo comigo… é não o confessar… principalmente a ti…

Sou louca por ti… terrível e apaixonadamente… louca por ti. Cada poro do meu corpo grita o teu nome, cada segundo do meu dia é passado a desejar-te, a ansiar-te, a procurar-te… nunca te vi as linhas do corpo, mas se fechar os olhos sou capaz de lhes desenhar o contorno sem falhar um pormenor… não te conheço o gosto do beijo, mas se me beijares, o teu gosto não me vai ser de todo estranho, muito pelo contrário… nunca te senti o cheiro… mas sinto-o rodear-me esteja eu onde estiver e consigo trazer a tua imagem ao meu pensamento torturando-me com prazer, enchendo-me de saudade... saudade do que nunca te tive… mas que tenho todas as noites quando me deito sozinha a pensar em ti… a querer-te comigo.

Sou louca por ti… quero o teu corpo desesperadamente junto ao meu… sentir o calor do teu desejo enquanto se funde no meu. Quero-te. Quero-te desesperadamente junto a mim. Já te conheço a mente, já te conheço a forma de ser, de estar e viver de tanto que te absorvo sempre que estou contigo… agora quero conhecer-te o suor, os gritos, o prazer… o amor… e contar-te todos os meus segredos, os que me ensombram o coração, mas também os que me enlouquecem o corpo…

Por isso vou-te adiantar já um que pareces não saber… Sou louca por ti, por esse teu andar, por esse teu respirar, por essa tua ânsia de viver, por esse teu querer-me sem querer.


por Isabel Reis
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quarta-feira, 14 de abril de 2010

O prazo acaba hoje...

Hoje estou aqui... à tua espera... À espera do teu carinho... do teu abraço... À espera que o teu amor seja maior que o teu orgulho... Hoje estou aqui... à espera que percebas que não podes viver sem mim... Amanhã??? Amanhã lamento... mas não prometo nada... Nem tão pouco posso prometer nada… quando tu também não o consegues fazer.

Só te poderei prometer alguma coisa… No dia que tu estiveres preparado para fazer o mesmo… no dia que arriscares confiar-me o teu coração, como eu te confiei o meu… correndo o risco de o perder ou de o ver reviver. Na vida jamais em momento algum podemos querer/exigir de alguém aquilo que nós próprios não estamos dispostos/preparados para dar.

Por isso hoje te garanto com todo o amor e sentimento que faz meu coração bater por ti sem ritmo certo… com todo o amor que faz meu coração saltar do peito à mínima lembrança de nós… do que fomos, do que somos… do que podemos vir a ser… Por isso acredita que hoje… hoje estou aqui à tua espera… como tenho estado todo este tempo. Hoje estou aqui com todo o desejo que meu corpo te tem, com toda a saudade de te ter em meus braços, com toda a fome que a tua ausência fez acumular dentro de mim… Mas o prazo acaba hoje… está decidido… o meu limite chegou ao fim.

Nunca foi um limite de tempo decidido com prazo pré-estabelecido, simplesmente chegou, quando tinha que chegar. Deixei a vida correr ao sabor do vento, deixei que o meu coração tomasse as rédeas e decidisse quando parar… ou quanto tempo esperar. Hoje porém, acordei com as mesmas certezas de todos os dias desde que te foste… e com mais uma. Com a certeza que te amo, como já te amava, com a certeza que te quero, como sempre te quis, com a certeza que meu corpo enlouquece de desejo à falta do teu cheiro… No entanto esta noite, enquanto o meu sono não veio… enquanto o por-do-sol trouxe consigo o amanhecer de hoje, juntos trouxeram também a certeza de que não posso esperar mais.

Por isso tens até hoje para dar um passo em frente até mim, dar-me o teu coração, na certeza de teres o meu contigo… ou recuar… recuar e devolver-me aquilo que é meu mas não consegues agarrar… recuar-te de mim… deixar-me ganhar asas e voar para outras paragens… deixar-me ganhar asas e conhecer novas paisagens.


por Isabel Reis
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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Amizade...


Mas o que é a amizade? O que é ser amigo? Como reconhecer um bom amigo?
A amizade como o amor não tem fórmula, não nasce sempre do mesmo jeito… não obedece a padrões, circunstâncias ou idades. A amizade nasce nas escolas, nas famílias, nos empregos, mas também nas paragens da vida quando a espera é longa, no café onde sempre fomos mas raramente estivemos, a amizade chega muitas vezes em momentos de dor e necessidade mas até em simples equívocos nasce uma grande amizade… o importante mesmo não é como ela nasce e sim como se desenvolve, como se fortalece, como ganha raízes e dá frutos.

Ser amigo não é estar presente todos os dias, mas estar presente quando é preciso… ser amigo é mais do que partilhar um sorriso ou gargalhada… é enxugar as lágrimas quando elas caem e dar aquele abraço na hora certa… sem que nos seja pedido… ser amigo é partilhar momentos, carregar fardos como se fossem nossos, com a certeza de ter alguém com quem dividir os nossos… Ser amigo é ser irmão, criar um laço mais forte que o sangue… é ser irmão presente de espírito, de alma e coração, mesmo sendo amigo de corpo ausente. Somos amigos quando somos lembrados, reconhecidos, amados, apoiados até quando as opiniões divergem… ser amigo é sentir saudade de alguém que também sente a nossa falta.

Um bom amigo não se reconhece em cartório, em documentos ou atestados… um bom amigo reconhece-se na alma, sente-se no coração… Um bom amigo chega na sombra da noite, sem ninguém lhe pedir e parte numa aragem de vento sem ninguém sentir… Um bom amigo é aquele que fica quando os outros se vão… Um bom amigo… aquele amigo… já o era antes de ser, é-o sem estar e será sempre… mesmo quando deixar de ser.


texto por: Isabel Reis
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sábado, 3 de abril de 2010

Sou feliz...


Sou feliz com o que tenho, mesmo não tendo o que um dia sonhei ter… sou feliz pelo que já tive, mesmo quando tive o que sonhava e afinal não era bem o que julgava ser, sou feliz quando lembro o que desejei mas não alcancei, quando relembro o que amei e fui amada, mas também quando lembro o quanto amei mas fui ignorada… lembro as felicidades que tive, que tenho e que talvez ainda tenha para viver… lembro o quanto já sofri, o quanto sofro e o tanto que se calhar ainda tenho para sofrer… quem sabe mais do que para ser feliz... no entanto com todos os prós e os contras que me estão destinados… apesar do tudo que tenho e não tenho, do nada que não chegou a ser meu e do nada que foi… apesar disso de uma coisa tenho certeza… SOU FELIZ.

Sou feliz pela vida que corre em mim, pelo ar que respiro, sou feliz porque estou aqui e enquanto aqui estiver posso dar todas as cabeçadas do mundo, que mesmo assim enquanto o sol nascer para mim, tenho sempre um novo dia para viver, uma nova oportunidade para me redimir, uma nova chance de ser o que sempre quis, ou quem sabe ser o que nunca sonhei… uma nova chance de dar, de estar, de amar… uma nova chance de viver… uma nova chance de SER.

Por tudo isso eu digo… SOU FELIZ… e todos devemos ser felizes, até mesmo quando choramos, quando sofremos… até mesmo quando morremos. Devemos ser felizes “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza”, na vida e na morte… porque no intervalo de tudo isso todos nós tivemos a oportunidade de estar cá, de ser gente… Cada um fez/faz da sua vida aquilo que lhe convém, ou que lhe é permitido… mas no fim de tudo devemos sempre lembrar-nos que mesmo que não tenha corrido bem… a oportunidade foi-nos dada…

Fomos gente, neste universo tão imenso, do qual sabemos/ conhecemos tão pouco… e a dádiva da vida é isso mesmo, uma dádiva… as dádivas agradecem-se sempre… eu agradeço sendo feliz… SOU FELIZ de ser um SER.


por Isabel Reis
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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Estações da Vida


Todos nascemos Primavera… caminhamos inseguros, com passos incertos vemos a erva nascer, as flores desabrochar, as árvores ganharem cor e vamos caminhando… caminhando, esperando encontrar sempre flores pelo caminho… mas os passos são incertos, frágeis, sem a sabedoria que só a caminhada nos proporciona, e aí vamos nós de encontro ao Verão, tropeçando nas pedras que simplesmente vem ao nosso encontro, fugindo dos ventos frios que teimam em surgir, tentando evitar as chuvas frias tão próprias da estação. Mas vamos em frente, mais seguros a cada manhã de que o sol está a chegar e com ele o calor do Verão, a juventude da vida, a inocência de quem julga que já sabe tudo… mas ainda não sabe nada… e o que sabe é tão pouco que bater nas paredes é coisa certa… é a lei da natureza enquanto o Verão chega… enquanto a vida se desenrola.

E chegou o Verão… aí estamos nós com toda a força… julgamos ser capazes de tudo… e assim com essa confiança até somos, embora por vezes o mais sábio é sossegar os impulsos e esperar mais um pouco que o calor fique mais firme, que traga com ele o ar quente logo pela manhã… mas quem quer esperar, quando dorme sonhando com a praia, quando acorda saltando para os calções, pegando na toalha e correndo para a praia em direcção ao mar azul… sonhando um dia alcançar-lhe o horizonte. Tolice… tolice tão própria do Verão, ninguém é capaz de tocar no horizonte, mas na ânsia em lá chegar, vamos passando pelo Verão colhendo aventuras… boas, más, de tudo um pouco… mas que nos encaminham mais firmes, fortes e principalmente mais sábios para outra estação da vida… porque na lógica da natureza, o Verão traz sempre no seu encalce o Outono de folhas multi-cores.

E tão entretidos estamos que o Outono chega sem darmos por ele… quando percebemos o Verão já se foi e resta-nos agora relembrar e seguir em frente… vemos as folhas mudarem de cor, ficarem douradas, caírem e nem nos lembramos da sorte que temos… chegamos até aqui, infelizmente nem todos podem dizer o mesmo. No Outono da vida já somos mais… mais conhecedores, mais experientes, mas vividos, mais felizes… ou talvez não… depende do que fomos e vivemos até chegar ali… mas no geral já somos mais… até já somos mais pacientes, já ansiamos porque o tempo corra mais devagar, enquanto amaldiçoamos o tempo em que só pedíamos para o tempo correr depressa, tal era a urgência de o viver todo de uma vez. No Verão somos pouco e julgamo-nos mais, no Outono já somos mais e ainda nos parece pouco. Enfim… o ser humano é um insatisfeito, mas já é algo tão intrínseco em si, que faz parte da sua natureza… como uma estação da vida.

Caminhamos para o Inverno numa dualidade de sentimentos porque fazemos a caminhada na esperança e tentativa de resgatar o Verão, incapazes de aceitar o que temos… incapazes de aceitar o que já não somos mais… Na estação fria da vida, em que as folhas já quase não restam nas árvores, em que os ventos nos fustigam cruelmente relembrando o que já fomos, vivemos apenas rodeados de lembranças… lembranças que fomos recolhendo em cada dia de sol, em cada raio de luz, em cada chuva e folha caída… Na estação fria em que a noite chega depressa, em que o dia é apenas um vislumbre, os que ainda estão na Primavera, no Verão e até no Outono sorriem gozando, (nem imaginam que também um dia chegará a sua vez) e chamam-lhe insanamente a Estação Dourada da Vida… que de dourado não tem nada, é simplesmente a tomada de consciência que não tivemos antes, que o fim se aproxima… pode chegar a qualquer momento, tão depressa quanto as estações foram e vieram…

por Isabel Reis
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quarta-feira, 31 de março de 2010

O Depois...


Vejo a chuva cair lá fora… sinto-lhe o gosto na boca, embora as suas gotas frescas não cheguem até mim. Sinto o odor da terra molhada, dos frutos caídos pelo chão e relembro… Relembro aquela tarde ranhosa em que tudo começou, em que deitados na erva fria ainda molhada, ficamos juntinhos a olhar o céu cinzento, esperando que o sol se lembrasse de aparecer e que a chuva se esquecesse de cair… incapazes de nos olhar de frente, incapazes de dizer o que verdadeiramente sentíamos, mantendo uma conversa trivial para que o silêncio não aumentasse o nervosismo que se havia instalado. Estávamos tão nervosos os dois que quase podia jurar ter ouvido o teu coração bater, enquanto a medo tentava disfarçar o batimento do meu… já bastava as faces ruborizadas que sabia ter.

Falávamos do tempo, da vida, de tudo e de nada ao mesmo tempo, conhecendo-nos demoradamente, incapazes de reter tudo que ouvíamos, fazíamos de um tudo para esquecer o desejo que nos fazia apenas pensar/ansiar por um beijo… aquele beijo… o primeiro de todos, que nos leva através do desconhecido, que nos dá a conhecer os sabores, os odores, o jeito tolo de beijar sem saber bem como. Engraçado, como o primeiro beijo é o mais desejado/ansiado de todos, mas aquele que determina o futuro imediato… aquele que aproxima o corpo da alma num ritual que é mais do que uma simples troca de fluidos e sensações… e ao mesmo tempo tem uma pressão tão grande inerente… se correr bem, as bocas tem dificuldade em separar-se, engolem-se urgentemente na ânsia do querer mais… se correr mal, separam-se meio sem jeito, evitando o olhar, com o silêncio a pesar mais do que antes, sem saber o que fazer ou dizer, aguardando que o tempo passe bem depressa.

Como um acto tão simples se torna tão complexo… Mas connosco não foi assim… não… passamos uma tarde a dois, meio sem jeito, com medo do antes, do durante e do depois… tanta era a vontade que houvesse um depois… que tolamente nos esquecemos de dar o primeiro passo ou quem sabe o evitamos propositadamente… e a noite chegou… trouxe até nós o cheiro do desconhecido… o brilho das estrelas ao acordar… o sorriso da lua para nos acompanhar… E somente aí… no silêncio da noite, sob o brilho das estrelas, envolvidos na escuridão da noite, sob a protecção da lua, só aí esse momento tão ansiado chegou… E aquele beijo tão desejado chegou poderoso, imponente e sôfrego, com mais amor, desejo, paixão e tesão do que teria se tivesse chegado horas antes… toda aquela tortuosa expectativa nada mais fez que aumentar os desejos, despertar os sentidos e pô-los em estado de alerta, nada mais fez do que tornar aquele acto simples, numa torrente de desejos esfomeados e acorrentados por tempo demais… Quem sabe talvez por isso a explosão que se fez sentir dentro de nós nos deixou em silêncio mais uma vez… mas desta vez num silêncio cúmplice, sentido, compreendido, fundido… em que nada mais era preciso dizer, já estava tudo subentendido… nossos olhares diziam tudo que precisávamos dizer… nossos corpos sentiam tudo que precisavam sentir e o tempo corria depressa sem se fazer notar… o dia já amanhecia, a noite chegava ao fim e nós ali abraçados sem querer saber do depois, do amanhã, até porque já era amanhã…

Separamo-nos a custo, afinal aquele primeiro beijo não se tinha ficado pelo primeiro, trouxe consigo o depois, a vontade, a loucura… trouxe consigo o amanhã e a certeza do incerto que se adivinhava estar a caminho, mas que agora se tinha tornado num incerto a dois… afinal aquele beijo, trazia consigo um depois.


texto por Isabel Reis
foto por Nuno Tavares
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Prazeres

Meus… teus… nossos…

Chego-me perto de ti e tua voz treme, a tua respiração acelera e perdes-te no caminho. Encurto ainda mais a proximidade dos nossos corpos… já me sentes o cheiro no ar, já me sentes a respiração resvalar ao de leve em teu corpo, tua pele arrepia-se ao sentir-me.
Olho-te nos olhos e teu corpo vibra, estremece, enrijece… enlouquece… já não aguenta a tortura que a minha presença tão intensa lhe desperta.
Agarras-me então descontrolado, queres sugar-me a vida num só beijo, queres aplacar a loucura que o teu corpo sente num arrebate insano… E eu deixo-me ir… afinal… para quê lutar contra a urgência que eu mesma provoquei.

Deixo-me levar na tua loucura, paro de fingir que também não é minha, abro comportas e deixo o teu desejo entrar, para quem sabe o meu desejo sair… antes que ele que me ultrapasse os limites que lhe imponho, deixando-se arrebatar por urgências que não quero… assim paro e assumo que essas urgências também são minhas… assumo que esses desejos também são meus… encaro a realidade que me rodeia e assumo… “Vem, vem agora… traz teu corpo de encontro ao meu, deixemos que a noite tome conta de nós… porque o amanhã ainda demora e a noite é longa… e toda nossa”

por Isabel Reis
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terça-feira, 30 de março de 2010

Sentimentos meus

Esta noite tomei uma decisão…

Por sentir demasiado a tua falta, a falta do teu corpo junto ao meu… de sentir o teu cheiro enquanto durmo, o calor do teu corpo na noite fria… cansada desta saudade que me domina tomei uma decisão. Estou aqui a ressacar-te, como um qualquer viciado, o meu corpo sente falta do teu, mais do que isso a minha alma é menos sem ti. Por isso hoje, depois de muito ressacar, depois de muito te sonhar, depois de dias inteiros a esperar-te tomei uma decisão. E senão consigo viver na lucidez sem ti, prefiro viver na loucura contigo.
Como tal, hoje vou deitar a cabeça na almofada, fechar os olhos e sentir-te aqui junto a mim mais uma vez. Vou imaginar que te deitas, que aconchegas o teu corpo junto ao meu, que me abraças, que me beijas e simplesmente dizes... "Boa noite amor"... Sim vou faze-lo mais uma vez, e mais outra, e todas as noites que tenho pela frente, para que a minha vida faça sentido como um dia já fez. Para acalmar o meu vicio e a tortura não ser tão grande.

Sendo assim, abraço o teu abraço que me abraça, aqueço-me no calor do teu corpo quente, beijo os teus lábios que me beijam, fecho os olhos e digo… “Boa noite também para ti meu amor.”

por Isabel Reis
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segunda-feira, 22 de março de 2010

Amor (Parte III)


por ti…

por ti me apaixonei
muito antes de o perceber
por ti renasci
muito antes de o compreender

entraste levemente
sem tão pouco avisar
entraste suavemente
deixando o amor apenas pairar…

quando então tomei noção
do que estava a acontecer
já não tinha solução
e por ti me deixei perder…

perdi, mas encontrei-me
no instante que percebi
que tu és a alegria da vida
que num dia qualquer eu perdi…

por: Isabel Reis em "Delirios de uma alma encontrada" - Maio 2008

Amor (Parte II)


o teu amor me encontrou

numa brisa de primavera
o teu coração me encontrou
num raio de sol
o teu amor me fulminou…

nesse raio de luz
nessa brisa a correr
não percebi o que acontecia
deixei-me apenas envolver…

envolvi-me no amor
no carinho que me tocava
não percebi que num segundo
meu coração se apaixonava.

envolvida em felicidade
envolvida em teu calor
percebi o que me faltava
que eras Tu e o teu amor…


por: Isabel Reis em "Delirios de uma alma encontrada" - Maio 2008

Migalhas de Amor...

Migalhas de amor vadio Amor frio… escorregadio… Migalhas de amor pequeno Amor cruel… amor veneno… Migalhas de amor corrido ...